Coluna de Antônio Neto
Pela manhã vou pegar meu alçapão, uma banana madura e vou pescar pipira no pé-de-mamão. Depois, que ela se alimentar, eu a solto com gratidão. À tardinha vou catar vim-vim com visgo nos pés-de-capim da mata do pinheirinho e fazer bola de sabão. Depois, lavo a delicadeza dos seus pezinhos, bato um papo de orelha admirando sua beleza: beijo e solto-o na imensidão. Depois, vou sentar um sentar solidão para ver a revoada das andorinhas no largo da igreja de São Sebastião.
Este mundo simples das aves, dos pássaros e das cores das asas me basta como se fora perdão. Para mim, conhecer os movimentos e as migrações dos animais, é uma viagem nas veredas do sertão. Ah, tem, também, os insetos mecânicos e magnéticos. São ao mesmo tempo ordinários e extraordinários. Além de alguns serem extremamente esquisitos, autênticos e viáveis. Uns escalam a casca das árvores. Outros são acrobatas aéreos. As formigas são ímpares na arte da disciplina. São soldadas aguerridas. Dizem os biólogos que elas inalam um odor dependo da tarefa ou função que está assumindo naquele dia. É como se fosse uma farda. Um uniforme num frasco quão pequenininho. Quem vai coletar tem um aroma. Quem vai armazenar tem um cheiro. E, assim, sucessivamente, uma a uma. Dizem que elas têm até uma certa relação com os terremotos. Quando vai acontecer um abalo sísmico, ficam frenéticas, serelepes… Um cosmo surreal para lógica humanóide. Interessante!
Dizem que as abelhas, quando encontram néctar em abundância, retornam à comédia, dão uma certa quantidade de voltas em espiral para mensurar a distância e quando param, ficam de frente para direção onde se encontra o “banquete”. Interessante!
A fonte nos oferta o líquido mais precioso da vida de graça. O pássaro canta e encanta o dia sem cobrar 10% de gorjeta. A roseira nos fornece a beleza, a elegância e a essência sem nos tributar. O urubu limpa a cidade da carnificina sem direito a férias, ao 13°, ao seguro desemprego e sem carteira de trabalho assinada. O burro ajuda ao seu proprietário criar sua prole e cuidar da família sem ter direito a um par de botas. O jumento em comboio abastece a população da seca com sua carga de ancoreta. O cavalo conduz com maestria e desenvoltura o coronel e o vaqueiro.
O morcego semeia a terra de semente das mais diversas espécies possíveis. A galinha, o peixe e o veado nos fartam. A barata faz a donzela descer do salto. O rato provoca asco. O sapo faz serenata para alegrar a vida na lagoa e no mato. A borboleta é, magnificamente, leveza, metamorfose e presságio. A catirina inspirou o helicóptero a voar para frente, para trás e para os lados. O besouro ensinou ao tanque de guerra mijar bala através da calda. O jabuti é o pai da alma. A preguiça é a mãe da calma. Eu sou um pobre incauto.
Ao caju acompanha a dose de cachaça. À manga agrega-se o sal, a saliva e a pimenta do reino no banco da praça. Ao pé-de-unha-de-gato seco adaptou-se a cigarra. À flor junta-se o bico e o beijo do beija-flor. O gado semeia o verde do campo e da mata pelo chão. O João-de-barro constrói sem cobrar um tostão. Já o pardal é um verdadeiro ladrão. O pica-pau é simplesmente um artesão sem patrão. A pipira desidratar o açúcar do mamão. A arara é a tela mais linda e vívida do pintor Pablo Picasso na porção mais singela do meu torrão.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi(Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio(Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).