
Nos primeiros 100 dias do seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu prioridade às relações com países da América do Sul e com potências mundiais. Ele visitou a Argentina, o Uruguai e os Estados Unidos, e havia planejado uma viagem à China, que foi adiada devido a problemas de saúde. Essa política externa é semelhante à adotada nos seus dois mandatos anteriores, quando países latino-americanos, Estados Unidos e Europa foram os principais destinos.
De acordo com a professora de Relações Internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, Lula tem dado prioridade à América do Sul e tenta reverter o “distanciamento do governo Bolsonaro com relação ao continente”. Sua visita ao Uruguai, onde se encontrou com o presidente Luis Lacalle Pou e com o ex-presidente José Mujica, foi um dos compromissos mais recentes.

Lula também planejou viagens aos Estados Unidos e à China, que são as duas maiores economias do mundo e rivais declarados. Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Amâncio Jorge de Oliveira, ao jogar com ambos os lados, Lula faz a “boa e velha barganha diplomática” para conseguir vantagens.
Os especialistas destacam que, embora haja uma retomada da política externa dos primeiros mandatos de Lula, o governo atual também está buscando se diferenciar da gestão Bolsonaro. Nos primeiros 100 dias do governo Bolsonaro, ele foi ao Fórum de Davos, na Suíça, mas não visitou países sul-americanos. Em nove meses no cargo, Bolsonaro visitou os Estados Unidos.

Neusa Bojikan, integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para estudos sobre os EUA, afirma que Lula e Bolsonaro estabelecem relações diferentes com os Estados Unidos. Ela destaca que o governo Bolsonaro tinha um alinhamento incondicional com o ex-presidente Donald Trump, enquanto Lula e Biden tendem a ter uma relação mais pragmática.
Os especialistas concordam que há pontos de divergência entre Lula e Biden em relação à economia e à migração, mas há uma agenda internacional em comum de combate à extrema-direita e à questão climática. De acordo com Bojikan, o objetivo da equipe liderada por John Kerry, enviado especial do governo Biden para o clima, era estabelecer estratégias para serem discutidas no âmbito do G-20, e outros países querem que o Brasil participe das negociações climáticas.
Os especialistas destacam que a política ambiental e a agenda contra as mudanças climáticas são protagonistas das relações exteriores do novo governo. Eles acreditam que o Brasil apresenta vantagens comparativas que podem permitir que o país seja líder nessas discussões.