Era só um sonho, nada mais.
às 11:23

Era um menino pensando ser uma bolha de sabão ou uma bolha de sabão pensando ser um menino? Esquisito. O menino corre pelas ruas das ruas, na rua do barro; se lambuza de lama na lama da lama, bola com seu cãozito pelo verde da grama na grama da grama, brinca com seu gato obeso, obeso sobre a espuma do colchão no chão do chão do colchão, pensa em ser – um dia qualquer – super-herói de desenho animado, animado para poder pular-cair e cair-pular sem se machucar, e sonha em ser bolha de sabão no sabão do sabão. A bolha de sabão corre sobre os cabelos do vento no vento do ventre, se lambuza no colorido lindo, das roupas do varal no varal do varal, bola sobre o verde das folhas das árvores nas árvores das folhas, brinca de se jogar na barriga dos frutos nos frutos dos frutos do absurdo, pensa em ser – um dia qualquer – astronauta de mármore no mármore do mármore de uma nave espacial, e sonha em ser menino para poder pular-cair e cair-pular sem estourar. Um menino que queria ser bolha de sabão ou uma bolha de sabão que queria ser um menino ou era menino-bolha-de-sabão? Não sei, só sei que era assim. Um menino que sonhava brincar na barriga do vento no vento do tempo do vento e varar os limites dos muros nos muros dos muros da vida no escuro. Uma bolha que tinha pavor de espinho no espinho do espinho do medo. Um menino que sonhava em pular de galho em galho nas copas das copas das árvores do bairro. Uma bolha colorida e leve, que reflete o arco-íris ao sol, mas que tem medo de capim e de espim. O menino que queria bailar, num ritual exótico, entre o orvalho da relva e o algodão do céu. Entre a seiva da terra na terra e o verde do mar no ar. A bolha só queria dormir, pois tinha medo de explodir.