Em novo texto crítico aos rumos do governo Lula, o jornal O Estado de S. Paulo expôs indignação com o modelo de renegociação das dívidas que os estados possuem com a União. No editorial intitulado Calote como Modelo de Negócios, o periódico indicou que a proposta do governo acentua o problema e incentiva o endividamento das unidades federativas – débito esse que já chega a quase R$ 750 bilhões.
Para o jornal, medidas como reduzir os juros dos empréstimos aos estados que aumentarem o número de vagas no ensino médio técnico e entregar empresas estatais à União não apenas parecem péssimas ideias, como de fato são. Ambas as propostas estão previstas no novo modelo de renegociação.
– Qualquer renegociação séria deveria beneficiar as duas partes, tanto quem emprestou o dinheiro, que não quer levar um novo calote, quanto quem tomou os recursos, que deseja manter seu nome limpo na praça. (…) Nada, no processo atual, inspira confiança de que dessa vez será diferente. O Executivo não demonstra qualquer preocupação em receber os recursos, e o histórico de alguns estados permitiria incluí-los na lista dos chamados devedores contumazes, que fazem da inadimplência um verdadeiro modelo de negócios, muitas vezes com o apoio do Judiciário – diz o texto.
O Estadão apontou ainda que os maiores devedores são justamente os estados mais ricos: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que juntos são responsáveis por 90% da dívida. Na visão econômica do jornal, tendo em vista que quase toda a dívida está concentrada em poucos estados, faz-se necessária uma renegociação específica que leve em conta as condições de cada um, não uma coletiva.
– As administrações petistas de Lula e Dilma Rousseff só acentuaram os problemas que já existiam ao incentivar o endividamento dos estados. Mesmo aqueles com baixa capacidade de pagamento foram alcançados, a pretexto de incentivar investimentos públicos, mas os governadores beneficiados usaram o dinheiro para autorizar concursos públicos e conceder reajustes salariais – lembrou o veículo de imprensa, citando ainda o governo de Fernando Henrique Cardoso como exemplo de renegociação bem-sucedida.
Por fim, o jornal pôs em dúvida que as verdadeiras intenções do governo sejam de fato ampliar o ensino técnico.
– A expansão do ensino médio técnico é o que supostamente justifica a mais nova renegociação das dívidas estaduais. Fica difícil acreditar nisso quando aquele que supostamente seria o maior interessado nesse acordo, o ministro da Educação, Camilo Santana, não estava na reunião com os governadores. Sua ausência fala por si: nem é preciso fazer curso técnico para saber quem vai pagar essa conta – ironizou.