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terça-feira, outubro 22, 2024
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Turista Acidental

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Minha vida, em Teresina, é realmente um passeio no parque da floresta, com flores coloridas, em concreto amarelado. Sou um andarilho inveterado, matuto e apaixonado, que vaga, feito vagalume delirante, por entre vielas sacrossantas. A Frei Serafim sempre será o sambôdromo de Brasa Samba, Sambão e Nicinha(in memorian). Meu mundo desfila no caminhão das raparigas. O miolo da arquitetura teresinense, da década de 70, mora na maquete prefeita, que habita às reminiscências, inocente e saudosista, do meu interior errante. Ontem, fui ao divã do Mercado Central… Estacionei a moto, próxima à Feira dos pássaros, e saí desfrutando da vida. Trocando em miúdos: sem frescura e sem etiqueta camuflada de bons modos. Saí degustando os corpos, em roupas coloridas, nos varais festivos do camelô. Já nas cercanias do mercado, passei pelos botecos, onde ainda se toma conhaque São João da Barra e cachaça, com limão, para curar a gripe. O link com o mundo lá fora ainda é o radinho à pilha, que fica entre as garrafas de aperitivo, sobre uma tabuá carcomida, cheia de poeira e teia de aranha. Os diaristas preferem os bancos de ferro, em pernas alongadas, que ficam encostados ao balcão. À distância de um braço, ficam o limão, o fósforo, o cigarro e um trago de cana. Uma senhorinha, suave e miúda, em avental e cabelo em toca, fica à porta do Box 12, oferecendo cardápio do dia: “Moço, vamos entrar! Temos caldo de carne, sarapatel, panelada, rabada, cozidão, mão de vaca… com uma pimentinha daquelas”. Agradeço, desço as escadarias, rumo à rua João Cabral, para comprar uma faca para tarefa doméstica, uns panos de prato e uns tapetes pros banheiros… Fito pro prédio, do antigo supermercado Raul Lopes, por onde corrir por entre as gôndolas, na adolescência, bate uma saudade daqueles dias tão distantes. Nas bancas, adquiro rapadura, mel, romã, amendoim… Volto, passo um tempo sentado, à sombra do oitizeiro, que fica ao lado do antigo prédio do Tribunal de Justiça do Estado, onde hoje fica o museu, para ouvir, na feira dos pássaros, a ladainha dos vendedores de gaiola. Prossigo, passo em frente ao antigo prédio do Supermercado São Gonçalo, onde hoje funciona a Igreja Assembleia de Deus. Rasgo por entre a praça Rio Branco, e as lembranças vão agarradas a mim. Vou até a Joalheria Matos para consertar um escapulário, onde a mamãe, sempre, consertava suas joias. Às vezes, íamos à Bela Aurora. A senhora, que me atende, diz que levará uns 30min, e aponta o sofá: “O senhor pode esperar ali!”. Estranho aquela senhora me chamar de senhor. Ontem era só um moleque, que ficava com os olhos colados, à altura do balcão, espiando os relógios de parede, e ouvindo o colóquio entre ela e a mamãe. Pego, novamente, a praça, passo entre o prédio da Receita Federal e a igreja do Amparo, trajeto que costumava fazer quando voltava do colégio. Olho pro Luxor Hotel, entro na praça da Bandeira, onde hoje é o Shopping da Cidade, fora o Terminal de ônibus ou “Parada Final”. Ali pegava meu ônibus… Monto minha moto, desço pro rumo do Cemitério São José, Instituto Antonino Feire, e sigo em direção à Ponte Estaiada, à Dom Severino… Sempre volto destas minhas andanças com um nó na gargante.

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