SOMOS NÓS O TEMPO
Pensei que os sessenta estivessem tão distantes, mas parecem bater à porta. Aquele que se dispõe a viver, irá sofrer, pois a vida oscila em ritmo e intensidade diferentes para cada ser. Uns se dão ao dinheiro, ao sucesso, à fama e à alergia, mas outros vão à poesia, às festas, aos bares e à alegria. Os anos me ensinaram a entender que todos têm sua sina. Que não precisamos passar por cima de ninguém para realizarmos nossos sonhos. Cartas à mesa: verdade, bobagens, tristeza. Aquele que se dar ao luxo, afoga-se, mas ao que vai à vida, encanta, espanta e veleja. Há ano manso, feroz e abundante de notícias alvissareiras. Meus dias passados já são maiores que os vindouros. O sol já ultrapassou o zênite e o meio-dia. A vida é fera numa face bela. Quando nos faz careta, pensamos ironicamente estar sorrindo. A vida é foice ao pé da cana seca. Ataiar a vida é loucura, pois, é austera e inexorável. O tempo urge no topo da montanha e a vida ruge no canto da serra. Apesar dos pesares meus dias foram bons. Os que foram amargos, ensinaram-me. E os que foram doces, embriagaram-me. Meu couro jamais irá ser de primeira, pois está cheio de cicatrizes. Já andei por tantas terras. Agora, só quero sossego. É o que eu quero, mas se ainda houverem guerras, estarei no fronte. Viver é mamar, gozar e amar. A trinca dos desejos é tempo, tesão e grana. Na velhice, o sabor está nas memórias que o tempo deixou gravado na alegria e nas lágrimas. Não sei se sou velho ou menino, mas acho tão difícil esta equação. A minha alma moleca quer correr, brincar e sonhar, mas meu corpo pede cama, sorriso com os amigos e lembranças sentado. A alma serelepe quer subir no pé de goiaba, mas, o corpo range e renge. As juntas e o medo de acidente não ajudam. Melhor mesmo é nadar, tomar um trago no bar e dizer que vai pescar. Na idade avançada bom mesmo é lembrar das besteiras feitas, de sorrir de si próprio e de lembrar dos amigos das primeiras travessuras.
