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sexta-feira, setembro 20, 2024
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Basta o simples

às 12:19

Foto: Reprodução

A fala do homem do mato é simples, não há perturbação nela. Como a sua vida não está pautada em dogmas, ele segue mais leve e livre para transitar por diversos assuntos, atos e fatos cotidianos. Geralmente, ele não se fia em um tema por toda vida, especializando-se e doutourando-se, pois de tudo quanto sabe, sem pautar ser a verdade, vem da vivência. Essa vida do home do campo é simples porque não procura profundidades na convivência e, muito menos, no tempo e no nada. Feito animal, segue nas tarefas da lida e nas necessidades biológicas, diárias. Ele não está ali para satisfazer a ninguém. Nem mesmo a si próprio. Ele, assim, mantém o equilíbrio e a tranquilidade sem precisar passar horas do dia meditando, mas, simplesmente, contemplando a vida de fato. Seu mestre é a natureza, que será lida nas páginas da fauna, da flora e dos astros. A simplicidade não necessita de adornos. A sua magia está justamente na suavidade. O cotidiano de uma vida simples é adornado de rituais belíssimos. Os dias são tecidos compostos de pequenas tarefas, retalhos, simplórios, que parecem uma sinfonia. Têm um ritmo e uma cadência. São pequenos rituais em forma de ensaios, atos e danças. Mete-se a vasilha de alumínio, velha e amassada, no fundo do saco de milho e espalha-se, em arco-íris ao vento, aos patos, aos capotes, às galinhas e aos porcos. Há, neste exato momento, uma cena incrível, no lançamento das sementes em uma coreografia feita pelo o corpo e, em particular, pelo braço. Vai-se ao poço, puxa-se uma lata d’água, enche-se um balde e, rodopiando em movimentos sincronizados, vai-se enchendo as vasilhas, num balé sarcástico. A dança do laço, para encontrar o pescoço do gado, que gira e requebra e gira e requebra até concretizar o ato ou o fato. Hamlet, de Shakespeare, adoraria contracenar com o homem do mato. A cena, do matuto montando em seu cavalo, é imponente, é elegante, é imperial. Depois de montado, imponente e elegante, é o rei daquelas serragens e paragens. A vida simples é um ritual belíssimo, de fato, em pequenos, medíocres e suaves atos altamente sofisticados.

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