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quarta-feira, março 12, 2025
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Textos da Semana

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DORMIR A CÉU ABERTO

às 10:01

Foto: Reprodução

Um dia pensei em ser morador de rua. Sempre tive uma admiração pelas pessoas que largaram tudo e foram morar nas ruas. Pessoas que já não fazem mais parte do censo, que estão vivendo à margem da sociedade civilizada. Já não participam das etiquetas e nem das filas deste mundo. Sempre tive esta vontade no meu coração. De ser uma pessoa, que já não precisa mais de nada. Sem contas de energia e água, e sem cartão de crédito, seriam sinais de total liberdade. Um pedaço de papelão como colchão e um edredom surrado por lençol. Sem horários de tomar café, de jogar baralho, de almoçar, de ir ao futebol, de jantar, de ler o jornal e de dormir. Poder dormir na grama da praça nas noites de lua cheia. Ter o estilo grunge como modo de vida. Ainda ensaiei, por um bom tempo, para assumir o estilo de vida de um morador de rua, quando pedi exoneração do banco para não ser mais nada na vida. Não vejo sentido em viver juntando um monte de tralhas velhas, que não vão me servir de nada. Não consigo conceber uma vida repleta de bens e cheia de tributos. Queria ser um “passarinho urbano”… Queria andar de cidade em cidade para não cair na monotonia de uma vida sacau. Banhar no banheiro dos postos de gasolina ou num córrego à beira da estrada. Pega carona nos caminhões e no trem. Ser um ser universal. Sem torrão… Sem destino, sem naturalidade… Dormir sob viaduto, nas calçadas e nas escadarias das igrejas, em algum teto abandonado, no banco da praça, no banco da rodoviária, na estação do trem, na calçada do hospital, no banco do cemitério, em qualquer lugar a esmo. Para mim, viver sem teto, sem parede, sem porta, sem trava, sem chave, sem endereço, sem chaveiro, ao relento, é uma das mais belas formas de liberdade. Uma mochila, às costas, como guarda-roupa e uma Bíblia, por companheira da noite. Poder usufruir da vida de forma íntegra. Uma espécie de alforria do calendário. Clandestino, sem horário de expediente, sem uniforme de fábrica e sem bota da construção civil. Usufruir das estrelas, da imensidão do mar e da solidão das estradas. Sem horário de visitas, sem horário de saída e sem convite para festa. Longe de toda formalidade social e sociável. Bicho bruto. Vivendo sem dourar a pílula. Uma vida só para mim, para minhas vontades, meus apetites e para minha morte. Um mundo onde tudo está certo e reto. Sem ansiedade, sem demissão, sem depressão, sem seguro de vida, sem cinema, sem lar, sem suicídio, sem compromisso, sem status e sem titulos…

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