Textos da Semana.
às 10:16

O pó da cacimba, que alimenta minha alma, está sentado, sonolento e calmo, ao fundo do poço. A face da cacimba está cristalina, brilhante e límpida. Uma folha amarela baila sobre o espelho da água ao ritmo do vento. A água é, estupidamente, fria. O vento coado, suave e gelado. O silêncio da sombra, fria, gelada, que embala e acalma o pasto. Uma frestinha, de uma nesguinha de sol, que vara os galhos, as folhas, as flores e os frutos da magueira, visga e penetra, o fundo da cacimba. O vento, sem sela, sem arreio e sem cabresto, corre solto. O cavalo, na solta, solto. A porca, com seus porquinhos, pretos e malhados, desfrutam da lama, que corre do riacho, estreito e raso. O gado aproveita a safra da faveira para matar a fome e engordar a carne. As galinhas, com seus pintinhos, amarelinhos, vão ciscando e alimentando as crias. Os chocalhos, soando, anunciam a chegada das cabras, dos burregos e dos bodes, com o pai de chiqueiro, fedorento, para comer o sal do colcho. Ele, sentado à sombra da faveira, tranquilo, debulha o feijão-verde sobre o paneiro, enquanto o amigo pita seu cigarro de palha e tecendo assuntos da lida. As conversas giram em torno das roças do milho, do arroz e do feijão, pois o inverno não foi bom. Falam de gado e de política. Ela sai, com um pano de prato, amarrado à cabeça, e, balançando os braços, vai tangendo as criações para dentro do chiqueiro. Os cachorros, ofegantes e com língua solta, ficam deitados, sobre a areia fria, escutando a prosa. São bons de caça… São exímios companheiros dos vaqueiros para pegar boi brabo, na caatinga, no campo e na serra, para botar pro curral.