Texto.
às 12:31

A vida se permuta em inverno e verão, teremos raríssimos anos na vida de primavera e outono. Viveremos entre anos secos, secos, de grande escassez, e, anos chuvosos, alagados, de grande abundância. Alguns terão anos prolongados de inverno mas depois, a conta chega de forma severa para cobrar entre dores, piedades e perdas. Outros terão sequências terríveis de verão, onde as contas serão apresentadas umas atrás das outras, de forma contundente e visceral. Levando, assim, as pessoas às vezes ao desespero. Poucos terão outonos em suas vidas, quando muito, um ou dois, durante a vida. Raríssimos terão primaveras em seus dias, quando muito, uma, ou poucos lances, fugazes, de alegria, perdidos por entre as horas sofridas da vida. A regra é seguirmos entre dores e sabores, não temos como fugir da permuta entre cara e coroa. A vida é um grande tabuleiro de xadrez, que jamais entenderemos seu curso e seu discurso. No mais, ela é franca. Os beduínos, sempre, levam, somente, o necessário para atravessar o deserto. Eles sabem que quanto mais peso, mais difícil será a travessia e a caminhada. Esta filosofia nos ensina que para atravessarmos os dias devemos levar o mínimo possível, quanto mais bens pomos às costas, mais nos comprometemos com o mundo e suas engrenagens. As obrigações com tributos irão nos roubar o sono e os sonhos e irão nos encher, até a tampa, de preocupações. Com isso, virão as mazelas: dores, pestes e sofrimentos. Desapegue-se! Sua casa é para ser um pouso e um repouso, não uma alucinação de medos, de contas e de dores. O rio nunca prende sua vida, muito pelo contrário, sai, pelo mundo afora, regando vidas e dando flores. Quanto mais acumulamos, menos somos e quanto menos levamos, às nossas contas, mais vivemos livres e em paz. Muitos móveis; muita poeira. Mais espaço; mais leve, mais limpo e mais vento. Sofás belos, lindos, caros, em couro raro, onde nunca haverá corpos para sentar, pois as preocupações do dia a dia não podem parar de nos atormentar. O aluguel chega sempre primeiro… o que restar compra-se de víveres. Assim, também, vivem os pássaros, entre inverno e verão, porém, não acumulam. Os ninhos servem apenas a uma ninhada, depois, ficam ao abandono pois a vida requer voos. As aves migram, mas sempre voltam. Somos, também, peregrinos aqui nesta terra e devemos voltar, porém, devemos deixar histórias de belos voos para futuras gerações. As coisas, que criam poeira e ferrugem não devem nos iludir, os falsos oásis, no meio do deserto não devem acabar nossa caminhada, devemos seguir sem olhar para trás. Diminua as coisas à sua volta para poder entender a toada, o ritmo e a jornada bela da vida à sua frente. Pesados, ansiosos e depressivos, como andamos, só queremos sombra e água fresca, e que o mundo nos oferece a um custo altíssimo, mas, a sabedoria, o costume e a leveza dos voos dos pássaros é que apesar dos invernos e dos verões, eles sempre procuram encontrar outros, outonos, edições, primaveras e versões durante a vida. Pasmem, sem fazer poupança ou construir palácios… A vida vale mais do que um punhado de coisas tolas em plástico ou ferro, que secam, fenecem, enferrujam, morrem e caem da mão ao chão. As estações não vão mudar porque queremos, somos nós que vamos regar as primaveras e os outonos em nosso ser em novas edições e novas versões de inverno e verão. Sejamos flores ao vento.