“A poesia não está só nos livros. Há deles que não tem um grama de poesia. Há outros em que a poesia é esmagada pelas palavras. Há os que tem vestígios de poesia. E há os que tem poesia. Há poesia que, indo ou não para os livros, vai para muros, camisetas, cartões postais, cartazes, agendas, recitais…”
Foi o que aconteceu no último domingo, no Bar Jericoroa, na coroa do Rio Parnaíba. Poetas e um público vibrante fizeram o Piranhão, nome que não é novo, mas provocativo para um sarau poético. Feliz de quem teve a ideia e quem se incorporou a ela, tornando-a fato, ato poético.
Antes de ser escrita, a poesia – mãe das artes – deve ter nascido falada, cantada, dançada… A poesia escrita não deixa de ser poesia. O livro ainda não perdeu a hegemonia. Mas a poesia falada tem sabor especial, por causa da voz viva, do corpo, da emoção transmitida de forma direta. E se a poesia é falada por um time de poetas, ao ar livre, fora das convenções e artificialismos das salas, amplificada é a potência das vozes poéticas, para quem as emite e para quem as recebe. E se, mais ainda, as vozes poéticas ressoam de e para pessoas que tem os pés descalços sobre a areia do rio e o peito aberto para o vento e tudo o mais, o que acontece é a comunicação vivificante entre seres humanos, que se transformam em seres poéticos.
Poetas tem nomes civis para efeitos administrativos porque seu verdadeiro e único nome chama-se poesia. Foram se sucedendo no super palco coberto de palha do Jericoroa, anunciados pelo mestre de cerimônias não-cerimonioso João Henrique Vieira, que começou atiçando com a memória de uma pichação que ele tinha visto na rede de tantos peixes: “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”. Os neurônios dispararam.
Como domar rios de poetas? Impossível. O palco recebia poetas que respiravam os ventos do Rio Punaré, outro nome do Parnaíba. Por lá passaram, além dos já citados, Ithalo Furtado, Assis Galvão, Samdra Dee, uns, umas e outras…
Fonte: Geleia Total
Texto de: Rogerio Newton