Coluna de Antônio Neto
Um domingo qualquer… um banho demorado e café com bolo frito. Pego minha mochila e ponho às costas, monto minha moto e parto sem destino. Sigo rumo ao vento fresco da manhã. Sem destino certo ou incerto. Vou indo… Paro no posto para abastecer, passo na borracharia do meu amigo Adriano, para dar um ar nos pneus. Enquanto termina de atender a um cliente, sento à sombra da calçada e ligo meu GPS-mental. Traço alguns itinerários, mas não fecha. Termino por optar por ir pela avenida das Hortas, no Dirceu, pois assim teria várias opções para seguir.
Opto pela rota da Usina Santana e Rodoanel. Neste, teria duas opções: ou seguir pela rodovia de Altos, assim tomaria um caldo de cana na barraca que fica perto dos trilhos do trem, ou a rodovia de Demerval Lobão, onde poderia ficar no balneário São Francisco, no povo Chapadinha, ou, seguir em frente para tomar o famoso suco de cajá, na lanchonete o “Rei da Cajá”, ao lado da Igreja Matriz, assistindo o movimento das pessoas na feira. Despeço-me do Adriano, e sigo rumo ao Rodoanel: avenida Marechal Castelo Branco, av. Gil Martins, Ponte Anselmo Dias, br. Dirceu, bar do Bispo, Usina Santana… Quando chego na rotatória do Rodoanel, lembro-me do balneário “Mirante dos Lagos”. Hoje é dia de som ao vivo, e casa cheia, mas prefiro a BR 316.
Paro à sombra de uma mangueira, chupo umas mangas de fiapo, boto a mochila para acomodar a cabeça e fico um bom tempo deitado, desfrutando da brisa. O céu estava exuberante e cheio de urubus. Chegam umas porcas para comer umas mangas e eu zarpo. Sigo pelo acostamento que é largo para não atrapalhar os automóveis, pois vou sem pressa e sossegado. Só curtindo a estrada com seus pássaros e suas floradas. Paro na ponte e fico num monólogo diante da bela paisagem do Velho Monge, que não se detém a me escutar. Enquanto resmungo, ele segue seu curso cumprindo, assim, sua sina. Algumas canoas amarradas pelos queixos e uns pescadores tratando suas piabas à margem. Vão conversando, e com uma faca entre os dedos, vão tratando piabas com uma facilidade estonteante. Aceno, e eles retribuem o cumprimento com uma gentileza matuta e um sorriso banguelo. O rio, os pescadores, as flores, eu e o céu… um cenário perfeito para quem quer fugir da solidão do domingo.
Aproveito o ar puro, respiro fundo e vou lavando os pulmões, já que não vou descer para lavar os pés e trocar dois dedos de prosa com eles. Pego o asfalto em direção ao povoado Chapadinha. Passo em frente à fábrica do Dudico, onde se ouvia sussurros e gargalhadas de vida, hoje habitam o silêncio e o abandono. Na BR, o fluxo de caminhões aumenta e tenho que redobrar a atenção. Carretas com cargas pesadas e em alta velocidade são uma ameaça. O vácuo do vento, na ultrapassagem, falta lançar a moto para fora da rodovia. Que não deixa de ser tempero que causa emoção, arrepio e medo. Aqui, não dar para desfrutar da paisagem, pois o perigo ronda o corpo.
Passo no balneário, mas está lotado de carros de som. Poluição sonora ao extremo, e o pior, música de péssimo gosto. Que o diga, Lupicínio Rodrigues. Chego à Demerval Lobão e encontro um cotidiano diluído nos pedestres, nas bicicletas, nas motos, nas bancas dos camelôs e nos boxes dos magarefes. Sento na “Broadway”, peço um suco de cajá, um pastel de queijo e fico fitando os transeuntes em camisa de tecido barato.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi(Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio(Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).