Coluna de Antônio Neto
Os dias passam lentos… Aqui, a criançada não tem tela, nem celular, nem tablet e nem televisão, pois as famílias são pacatas. Celular é bicho grilo de uma outra dimensão distante e sem buraco de minhoca para interligar os mundos pobres com os soberbos. Aqui, a vida é inteiramente artesanal: alfaiate, sapateiro, feirinha… Parece que o progresso do Positivismo, de Augusto Comte, faliu. A modernidade, a pós-modernidade e o pós-contemporâneo, com o Renascimento e o Iluminismo, que prometiam substituir a Deus (teocentrismo, fé) pelo homem (antropocentrismo, razão) não se cumpriu e não abarcou os rincões dos sertões e das periferias paupérrimos.
O tempo da molecada é gasto correndo no meio da rua e da chuva – por entre poças de lama -, empinando papagaio, andando em velocípede e bicicleta em condições precárias, avariados. Correm segurando o calção, que perdeu o elástico, atrás de uma bola furada e seca… outros andam nus, porém, todos carregam uma alma leve, que vai estampada nas retinas, nas bochechas e nos lábios. Para elas está tudo certo, a vida é bela. Todos dividem o pouco que têm. Ainda, que este brinquedo esteja depreciado, é nosso. Só Deus explica esta sabedoria reverberada em sorrisos soberbos e fartos, em dias ordinariamente difíceis.
Aqui, ainda temos carroças, jumentos, porcos, galinhas, patos, vacas, cachorros rabugentos e gatos magrelos trafegando pelas vielas. A xanana, com sua florzinha amarela, e o pé-de-pião, com o estalido das suas sementes secas, ainda nascem nos quintais. O céu e os urubus são abundantes. O residencial parece ter nascido num vale, pois está rodeado de montes e serras. Os vizinhos ainda pedem uma xícara de açúcar, um prato de farinha, dois ovos, uma massa de milho, um Nissin, um pouco de óleo de cozinha, uma barra de sabão, uma colher de sal… emprestado. Coisas que há muito não via.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi(Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio(Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).