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sábado, março 15, 2025
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MENINO ‘PASSARIM’

as 10:40

Reprodução

Vive o tempo inteiro avoando por entre as esquinas da vida. Vai pulando de galho em galho para se sentir mais perto do algodão do céu. Às vezes vira piaba e sai mergulhando em qualquer poça d’água. Vive no mundo da lua. Viaja em rasantes pelo vento das asas. Às vezes, quando não está no ápice da torre da igreja, admirando o avoar das andorinhas e a vista da cidade, está no seu quarto falando e brincando sozinho com seus amiguinhos imaginários. Seus inimigos ferrenhos são a baladeira, o visgo, o alçapão e as gaiolas. Ele gosta mesmo é de avoar. Tem uma turma de passarim que adora andar em bando, mas ele gosta mesmo é dos dias solo. Seu sonho é cantar como o sabiá, como chico-preto, como xexéu, como canário… seu mundo deve ser como o mundo das notas do canto da cigarra – viver para cantar um canto estridente e contemplar a vida do alto, sem perder tempo com bobagens, pois a felicidade carece de pouca coisa para ser feliz. Para aquele que aprendeu a felicidade, quanto menos ter, é sempre fácil para se viver. Não se envolver com os homens, pois estão todos doentes de ansiedade, depressão e alienados à sedução do orgulho, da arrogância e dos brinquedos mundanos. Bom mesmo é ser passarim, pois não semeia, nem colhe, mas se alimenta todos os dias da sua vida, no banquete bucólico doado pela mãe natureza. O passarim deve fugir de qualquer hierarquia fajuta. Viver sem classes sociais, ser só passarim e pronto. Hoje, quando as pessoas apresentam alguém vão dizendo logo a sua profissão e não sua identidade. É mais fácil, mais soberbo e mais lucrativo apresentar o doutor do que uma pessoa de bem que é roceiro. O doutor pode ser o pior dos marginais, mas é preferível ao cidadão de bem que é de poucas letras. O passarim, Deus pôs no mundo, para avoar por entre as vidas das flores, das matas, dos peixes, dos bichos, menos dos homens, para enfeitar os vias do alto da torre do sino da igreja, para cantar a alegria de ser e de viver a vida riscando, em voos lunáticos, o cotidiano dos citadinos. Passarim também gosta de pescar, de jogar bola, de ser menino passarim, de comer picolé, de chutar bombom, de banhar de chuva no sábado no final das tardes, das férias da escola na casa da avó, de comer banana da feira soltando a casca, de andar pela cidade de mãos dadas com sua mãe aos domingos pelas manhãs, de banhar na mangueira do jardim com as flores as rosas e as borboletas, de assistir televisão na rede da sala, sozinho, enquanto sua mãe passarim, alegria, cantando, prepara o almoço com muita alpiste para o passarim menino.

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