DIVINAS FONTES
as 12:51
A vida é um milagre… Para rejuvenescê-la, à cada milagre, temos milhões de fontes por nascedouro. A beleza que nasce da beleza da queda d’água de uma cachoeira, em meio à mata e à chuva, é simplesmente indescritível. A garça, branquela e magrela que vai desfilando imponente à beira do lago por entre o verde, o seco, o vento e a vida, com uma elegância ímpar, risca a alma do artista nos mínimos detalhes. Um jardim qualquer, bem cuidado, na manhã de um domingo qualquer repleto de borboleta e beija-flor, é um quadro indelével, capaz de atingir em cheio a sensibilidade da alma de qualquer mortal. O badalar do sino da Matriz, em intervalos determinados, balança a vida da cidadezinha do interior ao anunciar a hora da Ave-Maria. Um maestro que rege, cada componente da sinfonia com a força da sua batuta, é simplesmente magnífico. Um palhaço cheio de bobagens que consegue arrancar o riso dos lábios dóceis de uma criança, é inefável. A alma é uma usina que deve ser abastecida de vida diária. Uma das fontes mais prazerosas dela estar na simplicidade do desavisado que passa sobre o perigo que é viver sem saber o que se passa. A florzinha que nasce à beira do rio ou entre o concreto armado é uma ilustração da alma em duas versões feliz e ingrata. O motorista, mecânico e autômato que conduz o ônibus coletivo, que acelera e freia, que abre abre porta e fecha, que chega e sai, é figura importante para que se possa completar as horas do dia que falta. O encontro de dois lábios, que se doam e se amam, num vazio repleto de beijos, é flor que desabrocha em meio aos pingos da chuva no coreto da praça. A mão que colher o milho, também, rega a alma.
