Coluna de Antônio Neto
Era um homem introspectivo. Parecia viver num mundo à parte. Uma pessoa comedida e de bons modos. Levava uma vida sossegada, e era manso por natureza. Não discutia futebol, política e religião. Tinha seu ponto de vista, e isso era tudo que lhe interessava. Parecia bastar-se a si mesmo. Os seus dias eram completamente comuns. Tudo, que queria e precisava, estava ali. Não militava em partido político nem vestia camisa de time de futebol.
Era um universo que não fazia sentido para ele. Cumpria seu destino, sagas e sinas sem perder o equilíbrio. Respeitava a todos, inclusive as crianças, e seguia certos princípios herdados dos pais. As obrigações caseiras e a labuta do trabalho bastavam-lhe. Durante os dias da semana, sempre, via passando na sua bicicleta Caloi, ano 77, para cumprir seu ofício no Necrotério do HGV. Trabalhava na marcenaria do hospital fazendo urna para enterrar os mortos, sem parente ou responsável, como indigente. Ali, passou a maior parte dos seus dias de vida.
Idos de 1960, quando iniciou sua carreira. Lá, conheceu aquela que seria sua futura esposa, e trabalhava como Auxiliar de Enfermagem. Casaram-se e tiveram um casal de filhos, mas criaram um filho do primeiro casamento dela e duas cunhadas. Era de pele negra, estatura mediana, e um pouco de calvície. Trazia sempre o cabelo baixinho, quando não estava na marcenaria, estava, no fundo do quintal, da sua residência, fazendo móveis. Ali, fabricava para casa e para vender. Eram muito religiosos. Ela sempre ia à missa, aos sábados. Uma senhorinha pequena, cabelo amarrado e de sorriso fácil. Sempre muito amável e atenciosa. Sua casa estava sempre bem cuidada, pois seu Tomé sempre mantinha pintada. Tinha uma vida muito regrada. Não fumava, nem bebia. Não gostava de festa. Às vezes, ia aos Festejos da Igreja. Ela sempre ia com as vizinhas, de leque à mãozinha e bem comportada. Gostava de tomar suco e comer creme de galinha. Sempre na da missa, mas, demorava pouco.
O cotidiano era milimetricamente programado. Tudo dentro do orçamento. Nada parecia está fora do lugar. Eram simples e humildades. A casa exalava paz. De tanto silêncio, parecia nunca ter ninguém em casa. Jamais se ouvia alguém falando alto ou qualquer discussão. Aquelas pessoas, de hábitos simples, sempre, me chamaram atenção. O mundo, com seu cotidiano esquizofrênico, parecia não as tocar.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi (Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio (Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).