Coluna de Antônio Neto
Sou, para sociedade hodierna, o famoso fracassado, pois não tenho títulos de nobreza, nem propriedade urbana ou rural. Mansões, não as possuo. Carrões, à garagem, não é meu forte. Heranças, não as trago. Lugares sofisticados, não os frequento. Sou fã, mesmo, é de mesa de boteco e da cultura de matuto, à companhia dos amigos. E, às vezes, até envolto de inimigos, pois vivo sem eles, são minha régua.
Amarro-me em gargalhadas estridentes, escandalosas e frouxas, a varejo ou a grosso. Dos becos das praças abandonadas, à companhia dos famosos “pés inchados” ou invisíveis sociais. Destes momentos de ócio, que para o mundo capitalista, insosso, não têm importância, por não trazerem lucro nem sal, pois são inférteis em série. Segundo eles, pois para mim, são inefáveis e produtivos. Para mim, são tragos nobres de birita suave ao relento.
Não sou ovacionado nas vias públicas, por não ser demagogo, nem carregar fortuna. Não sou nababesco, nem fidalgo. Ando, sorrateiramente, por entre as frestas sociais e apresso-me em desfrutar da lida pacata e anônima. Não distribuo um português rebuscado. Sou carne compactada, reles e barata. Viciado em afagos, babaquices e abraços. Meu banquete é trivial: feijão verde, baião de dois, ovo caipira, cheiro verde e coentro, ao azeite de coco babaçu. Sou afeito à casa de taipa, à rede cheirando a lavado – estendida em uma varanda frondosa -, em sala de janela ampla ou em terraço, nos dias de chuva torrencial em goteira farta. De jogar conversa fora, em meio aos pescadores, caçadores e todos os mentirosos cotidianos, pois são verdadeiros ficcionistas da vida surreal.
Sou afeito às prosas malucas, que se dão entre fogareiro em brasa, panelas a balançar e pano de prato, à cozinha, em dias de trovoadas e relâmpagos. Que seja regada a café preto, em bule colorido, e o bom aroma do cigarro de palha, para espantar o mosquito e defumar o ambiente. Sentado em tamborete em coro de gado, e ouvindo prosa em tom de vaquejada, para compor o meu divã. Por vezes, também, adoro andar à toa e voar como Ícaro voou, tentando alcançar o zênite da vida.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi (Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio (Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).