Coluna de Antônio Neto
Ouço o som da chuva que cai da biqueira e escorre pelo beco da casa. O relâmpago corta longe. Olho pro Bento, que dorme ao meu lado, e sinto sua respiração forte com o sabor e a pureza da infância. A mãe dele, colada à parede, com o braço em “v” sob a cabeça, que repousam sobre o travesseiro, parecem querer subir na parede. Rezo: o “Sinal da Divina Santa Cruz”, um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Sento à beirada da cama, calça as sandálias e levanto sem fazer ruído. O “Biscoito”, gatinho do Bento, já me espera, ansioso, à porta do quarto para abastecer sua vasilha com ração. A “Cacau”, cadelinha do Bento, se levanta e sai abanando o rabo, que bate na pia de fibra da área de serviço, e começa a lamber minhas pernas.
Banho, com toda parcimônia, tomo meu café diante da janela, que dá “prum” céu, ainda, escuro e pesado. Escovo os dentes diante do espelho, que custou reles 8,00 reais, numa banca da feira do mercado. Tiro o Terço do pescoço e começo a debulhá-lo, conta por conta. Ali, perco-me numa conversa sobrenatural e na bondade do amor do Cristo Jesus, ao lembrar do quanto foi humilde, aqui na terra, o Filho Sagrado do Deus vivo.
Levanto e vou assistir alguns vídeos sobre Escatologia… Ouço uma mãozinha bater à porta do quarto e dizer, em voz alta: “Papai!”. Tiro-lhe o pijama e a fralda descartável, como já é de praxe todas as manhãs, e ponho pra urinar. Enquanto ela prepara o almoço, ficamos deitados na rede da sala, assistindo o “Patati Patatá”, no youtube.
Depois do almoço, volto pros meus estudos e ele fica assistindo o “Pica-pau Amarelo”, enquanto a mãe prepara umas encomendas no computador para entregar. Depois do almoço, ela vai pegar a irmã para pintar os cabelos. Aproveito para ir ao salão do amigo, Dom José. Lá, ouço as resenhas do carnaval e fico sabendo de tudo que aconteceu na cidade no final de semana. No retorno para casa, passo pela igreja Matriz para rezar de joelhos diante do Cristo Jesus. Ao sair, olho pro céu e respiro fundo o ar puro que vem da natureza sem poluição. Pego a moto e venho embora pelo Rodoanel para apreciar a paz e a paisagem vindas das palmeiras. Algumas pessoas passam fazendo caminhada.
Antônio Ribeiro de Sampaio Neto, nascido no bairro Cidade Nova, em Teresina(PI), no dia 29 de junho de 1963. Filho de Singleustre Ribeiro de Sampaio e de Marlene Lemos de Sampaio. Ex-funcionário do Banco do Brasil onde ficou por 15(quinze) anos. Cursou Letras Português com Literatura Brasileira e Introdução à Literatura Portuguesa, na Ufpi(Universidade Federal do Piauí). Pai de Ananda Sampaio(Escritora), Raíssa Sampaio, João Victor Sampaio e Bento Sampaio. Atualmente, reside na cidade, ribeirinha, de União(PI). Tem por hobby música(fã incondicional de Belchior – in memorian), livros e cachaça, ao pé do balcão. Adora passar o tempo jogando conversa fora(cotidianas, bobas e triviais à companhia de mentirosos – pescadores e caçadores).